12 de abr. de 2015

MONTE RORAIMA fica na história... na história da minha vida!


Queridos amigos, viver esta aventura foi uma das experiências mais felizes da minha vida :) sabendo que não tinha criado muitas espectativas, para falar a verdade, nem conhecia, nem tinha ouvido falar no Monte Roraima antes de ter estado em Manaus no ano passado. Talvez isso tenha influenciado na minha satisfação final, mas a verdade é que senti que quero viver mais experiências como estas. Agradeço profundamente á minha vida (a quem a comanda) por me ter dado esta oportunidade de descobrir este prazer dentro de mim, junto da natureza!
Monte Roraima lá ao fundo
A aventura começou com um convite meio que informal, por parte de um colega da faculdade, para um grupo de professores, enquanto almoçávamos no TambaGrill (acho que no dia 10 de Outubro)... e eu fiquei curiosa, peguei no telefone e comecei a ver fotos e informação sobre o monte que diziam ser tão difícil de subir... mas pensei que a conversa ficasse por ali, como tantas outras coisas que se falam mas não se concretizam! Até ao momento da minha ida, não dê realmente muita importância ao passeio, sabia que tinha que ir preparada fisicamente, que ia ter que acampar, que tinha que viajar para a Venezuela, que ia ter que ficar sem conexão durante 8 dias... mas nada me preocupava verdadeiramente, andava tão ocupada com outras coisas relacionadas com o trabalho e preparando a Meia Maratona de Lisboa que pensava que a subida ao Monte ia ser um bónus, uma oportunidade de conexão com a natureza, mas sem lhe dar o respeito e a grandeza que realmente merece! Fiz este passeio, entre outras coisas, porque me tinha comprometido com o Danny, ele tinha organizado tudo para todos os colegas da UFAM que se mostraram interessados e afinal os demais falharam e nos vimos os dois sozinhos, cúmplices nesta aventura J Muito Obrigada Danny pela excelente organização!!!!
Eu só sei que viajei de Lisboa para Manaus numa quinta feira e no dia seguinte já estava a embarcar para Boa Vista. De lá apanhamos um táxi com mais dois aventureiros que conhecemos no aeroporto – a Thais e o Peter - e fomos para Santa Elena, na Venezuela, uma viagem que tarda quase duas horas e que inclui o registo de saída do Brasil e o de entrada na Venezuela. Em Santa Elena ficamos numa pousada bem modesta, na mesma rua onde ficam a maioria das agencias de turismo que organizam este tipo de passeios. O ambiente é de alegria, cheio de pessoal desportista e amantes da natureza... as conversas baseiam-se se já foste ou vais ir, com quem foste e como foi ?¿

No dia seguinte bem cedo, fechamos a organização do nosso passeio com um guia independente: o Marcos! Acho que fizemos uma boa escolha, ficamos muito satisfeitos com o trato e a organização do Marcos, apesar de ter falhado numa ou outra coisa, fomos privilegiados na atenção, na dedicação e na partilha de conhecimento que o Marcos sempre nos deu. Até porque, colaborando diretamente com um guia independente sabes que estás a ajudar esse guia e a sua família, o dinheiro é para eles na sua totalidade!
No sábado fizemos um passeio pela Gran Savana, que foi lindo... visitamos vários balneários, quedas de água impressionantes, uma delas paradisíaca! Piscinas naturais entre rochas... dentro de comunidades indígenas e ainda tivemos tempo para um almoço especial em São Francisco.
Maloca, Balneário Jaspe no Parque Canaima
Rio Jaspe, Balneário Jaspe no Parque Canaima

Cachoeira Paetrico
Jurassic Park
No domingo começou a nossa grande aventura! A equipa constituída por mim, pelo Danny, pelo Pedro (um Baiano maluco mas muito divertido!) e por dois carregadores o William que é o filho mais velho do nosso guia, e o Alex que é cunhado do Marcos; saía de manhã em jipe para Paratepui, uma comunidade indígena que fica na base do monte e onde todas as pessoas se têm que registar para entrar no parque. Almoçamos ali todos juntos com vários grupos que iam iniciar a aventura nesse dia, e depois começamos a caminhada. Na primeira noite acampamos á beira do Rio Tek, um local agradável onde vivem ainda alguns indígenas que mantêm a zona e dão alguma assistência aosturistas... pudemos tomar banho, jantamos e confraternizamos com algumas pessoas que fomos conhecendo na caminhada. Os nossos maiores aliados neste local são os mosquitos Puri-Puri, uma espécie de mosquito autóctone, que a partir das 17h vem impor sua amizade com os turistas mais desprevenidos!
Danny, Pedro e cargador, primeira subida :)

Paratepui
Acampamento, primeira noite
O dia seguinte já foi mais exigente... iniciamos a caminhada com uma grande subida, passamos por uma igreja católica, fundada no inicio do século, onde acodem alguns indígenas convertidos ao catolicismo... descemos até ao Rio Kukenan, por onde atravessamos saltando de pedra em pedra, com os pés na água, e voltamos a caminhar, atravessando largas subidas até chegar á zona de acampada chamada Base. Neste acampamento estamos nos pés da parede do Monte Roraima, sabemos que no dia seguinte esperamos a árdua tarefa de escalar, com a mochila ás costas, e a ‘quatro patas’. Choveu muito durante esta tarde/noite, mas mesmo assim quisemos tomar banho num riacho gelado que passava por ali... não sabendo o que te espera, aproveitas para te lavar em qualquer lado!
Travessia do Rio Kukenan

Indigena, cargador
Indigena Taurepan (Guiana Inglesa), admirador de Cristiano Ronaldo

Acampamento base
Amanheceu, e o dia e estava lindo... o céu estava aberto e podemos fotografar o Monte Roraima em todo o seu esplendor! A caminhada até lá acima foi muito dura... muito mesmo! Choveu sem parar... todas as pedras estavam escorregadias e o caminho enlameado... a água do platô do monte que cai em cascada – Lágrimas de Roraima – caio-nos todo o tempo em cima, perseguindo-nos! A água que escorre por entre as pedras chegou a formar um rio e transbordava o caminho pelo qual tínhamos que passar, colocando pé atrás de pé sobre a água. Quando chegamos lá acima estávamos completamente molhados, não só nós, também as mochilas, as roupas, as botas e todas as nossas pertencias. Eu sei que quando chegamos ao hotel, uma das várias cavernas onde está permitido acampar, eu comecei a tremer de frio, tiveram que me montar a tenda rapidamente para que eu pudesse mudar de roupa, secar-me e entrar em calor! Quase me dá um yuhuu de hipotermia!
Ficamos 4 noites lá encima, no platô do Monte Roraima... das quais duas foram no hotel 3 nações, fundado o ano passado pelo nosso guia e a ultima foi no hotel principal, de frente para o Maverick o ponto mais alto, visitável, do Monte Roraima. Por lá, fizemos vários passeios, visitamos o fosso, o ponto tríplice (Venezuela, Brasil, Guiana Inglesa), o lago sagrado Gladys, o miradouro da Proa, os vestígios do avião da Globo (que já se tornaram uma atração turística e uma vergonha nacional!), o monte dos cristais... tomamos banho em varias piscinas naturais que se formam entre as pedras, subimos ao Maverick! Não paramos... todos os dias fizemos aproximadamente 6 horas de caminhada/escalada, saltamos pedras, cruzamos precipícios, descemos calhaus para voltar a subir... tudo isto, carregando as mochilas com cerca 13 a 15Kg e a uma altitude de aproximadamente 2800m! As paisagens são incríveis e mesmo lá encima vão variando, há zonas de selva verde com lagos paradisíacos, há zonas onde só há pedra preta que formam figuras no espaço que nos incentivam a imaginar dinossauros, tartarugas, galinhas, sapos, crocodilos..., a zonas mais planas formando piscinas de água doce. Durante estes três dias tivemos uma sorte incrível porque não choveu nem uma só gota... tivemos um luar de lua cheia espetacular, e desfrutamos de uns amanheceres coloridos por cima das nuvens, belíssimos e inesquecíveis! Podemos conhecer alguns grupos que iam com outros guias e fizemos amizades e contactos com algumas pessoas. São experiências que sabem bem partilhar, cada um vive estas experiencias de um modo diferente, tocado pelas suas vivencias e pela sua forma física.
Vista do meu quarto ao amanhecer: Plató do Monte Roraima
Alex e William, preparando o nosso almoço no Fosso
Miradouro da Proa (nublado): coleguinhas Venezuelanos :)
Hotel 3 nações - Marcos, Pedro e Danny

Cenário Guerra das Estrelas :)
Nascer do Sol


Lago Gladys
Subida de tipo escalada, perdendo o medo!
Quando descemos fizemos o caminho ao contrário, almoçamos no acampamento Base e dormimos só quando chegamos á zona de acampamento do Rio Tek.... foram aproximadamente 8 horas de caminhada! Esta descida foi muito dura... muito exigente tecnicamente, impondo concentração, equilíbrio e muita autoconfiança. Qualquer falho de pés ou escorregadela podia custar uma caída com alguns riscos! Mas sabíamos que ao chegar ao acampamento tínhamos o privilegio de poder banhar-nos no rio e tomar umas cervejolas no bar que geriam as índias locais... essas eram as motivações!!
E assim foi, a chegada foi espetacular!!! Juntamos todos os grupos, á volta da mesa do bar e ficamos conversando até tarde, tomando cerveja e comendo chips de banana salgadinha com alho... partilhando as experiências e as aventuras de cada um, trocando emails e mostrando as fotos que tínhamos feito durante o caminho.
Crianças indígenas
No ultimo dia, até Paratepui, foi tranquilo... estava muito calor e o caminho não tinha sombra... houve algumas subidas e descidas mais imponentes, mas a dificuldade era mínima. Em Paratepui voltamos a reunir-nos, e a passar pelo registo. Comemos uma frutinha todos juntos e fomos levamos de jipe para almoçar em São Francisco.
Aí acabou a nossa aventura... em Santa Elena! Nesse dia á noite, voltamos a juntar o nosso grupo para comer uma pizza, convidamos o Marcos e conhecemos toda a sua família, mulher e filhos. Foi uma confraternização inesquecível numa noite de ‘lei seca’, por ser Domingo de Páscoa J
No dia seguinte já regressamos a Boa Vista. Ainda vimos o nosso amigo Peter, essa manhã em Santa Elena, mas ele estava baralhado sem saber o que fazer, e finalmente acabou decidindo ficar em Santa Elena para ir a Caracas de ónibus. 
Com o colega de viagem (Danny), no aeroporto de Boa Vista
Fica o desejo de fazer mais passeios como este... fica a motivação de saber que sou capaz de me sacrificar, pela causa de querer chegar! Fica a ambição de querer estar mais vezes afastada do mundo real e quotidiano. Fica a curiosidade de querer conhecer mais a natureza que nos circunda e que ignoramos no nosso dia a dia! Fica a vontade de querer partilhar com outras pessoas estas experiências J Fica um Ser com certeza diferente!


8 de nov. de 2014

E já passou mais de 1 mês...


Pois é, não sei como mas já passou um mês desde que cheguei a Manaus J
O tempo passou rápido, mas as experiências estão as ser muitas e boas! Tudo o que me tem acontecido tem sido muito positivo...
A experiência profissional, talvez a que mais valorize porque foi a que me trouxe até aqui, tem sido incrivelmente fantástica! Não esperava outra coisa, porque tenho-me esforçado para que isso aconteça... mas ás vezes podia não ser correspondida! Neste caso, tenho todas as condições para desenvolver um bom trabalho. Tenho uma equipa de trabalho espetacular, entre alunos e profissionais, da Universidade (UFAM) mas também do Instituto Nacional de Pesquisa do Amazonas (INPA) por quem já fui recebida e onde já traçamos um plano de ações colaborativas J Tenho uma sala de trabalho para receber os meus colaboradores, tenho um laboratório para me reunir e trabalhar com os alunos envolvidos no projeto... temos um budget que nos permite desenvolver algumas operações favoráveis ao projeto... o que é que posso pedir mais? Estou super motivada e muito concentrada e focada na minha pesquisa. Vejo como tem evoluído, e isso ainda me provoca mais! Espero que continue assim J
Equipa de trabalho juntou-se no CINPAD


Os colegas, alunos e amigos têm sido surpreendentes! Todo o mundo na Universidade me recebeu de mãos, e de coração, abertos! Estão muito atentos e preocupados com o meu bem-estar! Preocupam-se em me dar a conhecer o melhor que têm, da sua cultura, da sua cidade, da sua vida pessoal e familiar. Estou a viver em casa de colegas, que considero amigos, e tem sido uma experiência muito boa! Sabemos que não é fácil a convivência, nem é fácil abrir as portas da nossa casa para outras pessoas, mas talvez porque aqui não haja muita facilidade para alugar uma casa por tão pouco tempo, em casa dos meus colegas tenho-me sentido muito bem recebida e integrada! Sem ser uma a mais, mas fazendo parte do ambiente, das decisões, do ciclo familiar deles.

Dia de SUP, com Cilene

Teatro Amazonas
Com outros colegas, tenho saído para diversas atividades, tenho sido convidada para participar em diferentes festas e acontecimentos. Fui ao Teatro do Amazonas duas vezes, uma delas ver uma colega Professora da UFAM cantar opera... foi lindo!!! Fui fazer SUP com outra colega... e fui nadar no Rio Negro já varias vezes (na praia do Inglês)! O pequeno almoço regional é outro costume muito querido aqui... no fim de semana, levantamos-nos cedo (6 da manhã) para ir tomar o ‘café da manhã’ na estrada. Já fui ao Café Regional da Pricilia, em Irantuba (do outro lado da ponte) que é um dos mais conhecidos, lá comemos: Pupunha cozida (um fruto tipo castanha), Macaxeira cozida (conhecida como Yuca noutros lugares), Tapioca de Tucumã com ou sem queijo (eu prefiro sem queijo!!!), diversos sucos naturais e café com leite (para quem gosta, eu prefiro suco icupuaçu ou graviola!!).
Amiga Larissa, cantora de Opera no Teatro Amazonas
Sopa de Tacaca, com pimenta
Os jantares e os almoços têm sido vários, para provar isto e aquilo... Almoçamos quase todos os dias na universidade, um refeitório tipo buffet onde cada um se serve do que quer e pagamos por peso. Uma refeição custa normalmente 10R (aprox. 3€). Gosto de comer lá, porque me permite manter a minha dieta vegana/vegetariana, todos os dias há pratos com grãos (feijão, ervilhas, lentilhas, grão de bico... – fonte de proteínas), de arroz e de pasta, variedade de saladas, verduras e frutas! Quando vamos comer fora, fico surpreendida com a quantidade e a variedade de peixes que têm aqui!!! São peixes de rio, claro! Mas são peixes com um ótimo sabor que nada têm a ver com os nossos peixes de rio: pequenos, cheios de espinhas e com um sabor muito forte. Também é verdade que as dimensões dos rios aqui não se podem comparar com as dos nossos rios, estes rios são quase um mar J Quase sempre como peixe Tambaqui, assado ou em caldeirada, mas também já provei o Pirarucu e o Surubim fritos tipo panados e o Pacu em sopa. Ainda tenho que provar o Jaraqui que dizem que quem come Jaraqui não sai daqui! Eeh

restaurante com a bandeira de Portugal
O clima foi fácil de me habituar, quem gosta de sol, de calor e também de apanhar tormentas de chuva quente, é ‘canja’!!! Pensemos no nosso verão do Alentejo, naquelas noite quentes-quentes que andamos de top bem fresquinhas e que nada nos refresca; que durante o dia, não podes andar ao sol e escolhes as sombras quando tens que te deslocar... juntemos-lhe as trovoadas de Valência, chuvas intensas com relâmpagos e raios que assustam, mas que veem de repente e duram pouco tempo... juntemos-lhe 80% de humidade, andamos sempre suados, e ainda lhe acrescentamos o anoitecer precoce de Bruxelas, porque aqui ás 18h já é de noite (todos os dias, não há horário de verão nem de inverno!)... pois isto é Manaus!!! O dia nasce por volta das 5h da manhã, aqui sou feliz, porque ás 5h30m acordo com o chilrear dos pássaros... meto-me na piscina para nadar e ás 6h30m o sol já é intenso. Quando vou trabalhar, ás 8h, já tenho a minha energia a top com exercício físico feito, pequeno-almoço tomado e a vitamina D ingerida J
Pois é, talvez o que tenha sido mais difícil tenha sido livrar-me dos mosquitos... mas tenho feito progressos! Agora durmo de janela fechada, com o ar condicionado! Tenho dois frascos de repelente, um no escritório e outro em casa; cada vez que saio de qq um destes lugares passo o repelente. Não sei se é só isso... acho que eles também já se habituaram a mim!
As noites?¿ Cada vez durmo melhor! acordo bastante cedo, sempre antes do despertador tocar, mas sinto que é o suficiente e levanto-me com energia J A linguagem e as expressões locais são contagiantes... levam-me a pensar que vai ser difícil voltar a falar o Português de antes, depois da influência de nuestros hermanos e dos Belgas, agora só me faltava esta, ein?! Manaus é mesmo ‘legal’ e os Manauenses são ‘bem bacanas’ J
Visita ao Bosque da Ciência, no INPA