Queridos amigos,
viver esta aventura foi uma das experiências mais felizes da minha vida :) sabendo que não tinha criado muitas espectativas,
para falar a verdade, nem conhecia, nem tinha ouvido falar no Monte Roraima
antes de ter estado em Manaus no ano passado. Talvez isso tenha influenciado na
minha satisfação final, mas a verdade é que senti que quero viver mais
experiências como estas. Agradeço profundamente á minha vida (a quem a comanda)
por me ter dado esta oportunidade de descobrir este prazer dentro de mim, junto
da natureza!
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Monte Roraima lá ao fundo |
A aventura começou
com um convite meio que informal, por parte de um colega da faculdade, para um
grupo de professores, enquanto almoçávamos no TambaGrill (acho que no dia 10 de
Outubro)... e eu fiquei curiosa, peguei no telefone e comecei a ver fotos e
informação sobre o monte que diziam ser tão difícil de subir... mas pensei que
a conversa ficasse por ali, como tantas outras coisas que se falam mas não se
concretizam! Até ao momento da minha ida, não dê realmente muita importância ao
passeio, sabia que tinha que ir preparada fisicamente, que ia ter que acampar,
que tinha que viajar para a Venezuela, que ia ter que ficar sem conexão durante
8 dias... mas nada me preocupava verdadeiramente, andava tão ocupada com outras
coisas relacionadas com o trabalho e preparando a Meia Maratona de Lisboa que
pensava que a subida ao Monte ia ser um bónus, uma oportunidade de conexão com
a natureza, mas sem lhe dar o respeito e a grandeza que realmente merece! Fiz
este passeio, entre outras coisas, porque me tinha comprometido com o Danny, ele
tinha organizado tudo para todos os colegas da UFAM que se mostraram
interessados e afinal os demais falharam e nos vimos os dois sozinhos, cúmplices nesta aventura J Muito Obrigada Danny pela excelente
organização!!!!
Eu só sei que
viajei de Lisboa para Manaus numa quinta feira e no dia seguinte já estava a
embarcar para Boa Vista. De lá apanhamos um táxi com mais dois aventureiros que
conhecemos no aeroporto – a Thais e o Peter - e fomos para Santa Elena, na
Venezuela, uma viagem que tarda quase duas horas e que inclui o registo de
saída do Brasil e o de entrada na Venezuela. Em Santa Elena ficamos numa
pousada bem modesta, na mesma rua onde ficam a maioria das agencias de turismo
que organizam este tipo de passeios. O ambiente é de alegria, cheio de pessoal
desportista e amantes da natureza... as conversas baseiam-se se já foste ou
vais ir, com quem foste e como foi ?¿
No dia seguinte bem
cedo, fechamos a organização do nosso passeio com um guia independente: o
Marcos! Acho que fizemos uma boa escolha, ficamos muito satisfeitos com o trato
e a organização do Marcos, apesar de ter falhado numa ou outra coisa, fomos
privilegiados na atenção, na dedicação e na partilha de conhecimento que o
Marcos sempre nos deu. Até porque, colaborando diretamente com um guia
independente sabes que estás a ajudar esse guia e a sua família, o dinheiro é
para eles na sua totalidade!
No sábado fizemos um passeio pela Gran Savana, que foi lindo... visitamos vários balneários, quedas de água impressionantes, uma delas paradisíaca! Piscinas naturais entre rochas... dentro de comunidades indígenas e ainda tivemos tempo para um almoço especial em São Francisco.
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Maloca, Balneário Jaspe no Parque Canaima |
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Rio Jaspe, Balneário Jaspe no Parque Canaima
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Cachoeira Paetrico |
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Jurassic Park |
No domingo começou a
nossa grande aventura! A equipa constituída por mim, pelo Danny,
pelo Pedro (um Baiano maluco mas muito divertido!) e por dois carregadores o
William que é o filho mais velho do nosso guia, e o Alex que é cunhado do
Marcos; saía de manhã em jipe para Paratepui, uma comunidade indígena que fica
na base do monte e onde todas as pessoas se têm que registar para entrar no
parque. Almoçamos ali todos juntos com vários grupos que iam iniciar a aventura
nesse dia, e depois começamos a caminhada. Na primeira noite acampamos á beira
do Rio Tek, um local agradável onde vivem ainda alguns indígenas que mantêm a
zona e dão alguma assistência aosturistas... pudemos tomar banho, jantamos e
confraternizamos com algumas pessoas que fomos conhecendo na caminhada. Os nossos
maiores aliados neste local são os mosquitos Puri-Puri, uma espécie de mosquito
autóctone, que a partir das 17h vem impor sua amizade com os turistas mais
desprevenidos!
Danny, Pedro e cargador, primeira subida :)
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Paratepui
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Acampamento, primeira noite |
O dia seguinte já
foi mais exigente... iniciamos a caminhada com uma grande subida, passamos por
uma igreja católica, fundada no inicio do século, onde acodem alguns indígenas
convertidos ao catolicismo... descemos até ao Rio Kukenan, por onde
atravessamos saltando de pedra em pedra, com os pés na água, e voltamos a
caminhar, atravessando largas subidas até chegar á zona de acampada chamada
Base. Neste acampamento estamos nos pés da parede do Monte Roraima, sabemos que
no dia seguinte esperamos a árdua tarefa de escalar, com a mochila ás costas, e
a ‘quatro patas’. Choveu muito durante esta tarde/noite, mas mesmo assim
quisemos tomar banho num riacho gelado que passava por ali... não sabendo o que
te espera, aproveitas para te lavar em qualquer lado!
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Travessia do Rio Kukenan
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Indigena, cargador
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Indigena Taurepan (Guiana Inglesa), admirador de Cristiano Ronaldo |
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Acampamento base |
Amanheceu, e o dia
e estava lindo... o céu estava aberto e podemos fotografar o Monte Roraima em
todo o seu esplendor! A caminhada até lá acima foi muito dura... muito mesmo!
Choveu sem parar... todas as pedras estavam escorregadias e o caminho
enlameado... a água do platô do monte que cai em cascada – Lágrimas de Roraima
– caio-nos todo o tempo em cima, perseguindo-nos! A água que escorre por entre
as pedras chegou a formar um rio e transbordava o caminho pelo qual tínhamos
que passar, colocando pé atrás de pé sobre a água. Quando chegamos lá acima
estávamos completamente molhados, não só nós, também as mochilas, as roupas, as
botas e todas as nossas pertencias. Eu sei que quando chegamos ao hotel, uma
das várias cavernas onde está permitido acampar, eu comecei a tremer de frio,
tiveram que me montar a tenda rapidamente para que eu pudesse mudar de roupa,
secar-me e entrar em calor! Quase me dá um yuhuu de hipotermia!
Ficamos 4 noites lá
encima, no platô do Monte Roraima... das quais duas foram no hotel 3 nações,
fundado o ano passado pelo nosso guia e a ultima foi no hotel principal, de frente
para o Maverick o ponto mais alto, visitável, do Monte Roraima. Por lá, fizemos
vários passeios, visitamos o fosso, o ponto tríplice (Venezuela, Brasil, Guiana
Inglesa), o lago sagrado Gladys, o miradouro da Proa, os vestígios do avião da
Globo (que já se tornaram uma atração turística e uma vergonha nacional!), o
monte dos cristais... tomamos banho em varias piscinas naturais que se formam
entre as pedras, subimos ao Maverick! Não paramos... todos os dias fizemos
aproximadamente 6 horas de caminhada/escalada, saltamos pedras, cruzamos
precipícios, descemos calhaus para voltar a subir... tudo isto, carregando as
mochilas com cerca 13 a 15Kg e a uma altitude de aproximadamente 2800m! As
paisagens são incríveis e mesmo lá encima vão variando, há zonas de selva verde
com lagos paradisíacos, há zonas onde só há pedra preta que formam figuras no
espaço que nos incentivam a imaginar dinossauros, tartarugas, galinhas, sapos,
crocodilos..., a zonas mais planas formando piscinas de água doce. Durante
estes três dias tivemos uma sorte incrível porque não choveu nem uma só gota...
tivemos um luar de lua cheia espetacular, e desfrutamos de uns amanheceres coloridos
por cima das nuvens, belíssimos e inesquecíveis! Podemos conhecer alguns grupos
que iam com outros guias e fizemos amizades e contactos com algumas pessoas.
São experiências que sabem bem partilhar, cada um vive estas experiencias de um
modo diferente, tocado pelas suas vivencias e pela sua forma física.
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Vista do meu quarto ao amanhecer: Plató do Monte Roraima |
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Alex e William, preparando o nosso almoço no Fosso |
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Miradouro da Proa (nublado): coleguinhas Venezuelanos :) |
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Hotel 3 nações - Marcos, Pedro e Danny
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Cenário Guerra das Estrelas :) |
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Nascer do Sol |
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Lago Gladys |
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Subida de tipo escalada, perdendo o medo! |
Quando descemos
fizemos o caminho ao contrário, almoçamos no acampamento Base e dormimos só
quando chegamos á zona de acampamento do Rio Tek.... foram aproximadamente 8
horas de caminhada! Esta descida foi muito dura... muito exigente tecnicamente,
impondo concentração, equilíbrio e muita autoconfiança. Qualquer falho de pés
ou escorregadela podia custar uma caída com alguns riscos! Mas sabíamos que ao
chegar ao acampamento tínhamos o privilegio de poder banhar-nos no rio e tomar
umas cervejolas no bar que geriam as índias locais... essas eram as
motivações!!
E assim foi, a
chegada foi espetacular!!! Juntamos todos os grupos, á volta da mesa do bar e
ficamos conversando até tarde, tomando cerveja e comendo chips de banana
salgadinha com alho... partilhando as experiências e as aventuras de cada um,
trocando emails e mostrando as fotos que tínhamos feito durante o caminho.
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Crianças indígenas |
No ultimo dia, até
Paratepui, foi tranquilo... estava muito calor e o caminho não tinha sombra...
houve algumas subidas e descidas mais imponentes, mas a dificuldade era mínima.
Em Paratepui voltamos a reunir-nos, e a passar pelo registo. Comemos uma
frutinha todos juntos e fomos levamos de jipe para almoçar em São Francisco.
Aí acabou a nossa
aventura... em Santa Elena! Nesse dia á noite, voltamos a juntar o nosso grupo
para comer uma pizza, convidamos o Marcos e conhecemos toda a sua família,
mulher e filhos. Foi uma confraternização inesquecível numa noite de ‘lei
seca’, por ser Domingo de Páscoa J
No dia seguinte já
regressamos a Boa Vista. Ainda vimos o nosso amigo Peter, essa manhã em Santa
Elena, mas ele estava baralhado sem saber o que fazer, e finalmente acabou
decidindo ficar em Santa Elena para ir a Caracas de ónibus.
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Com o colega de viagem (Danny), no aeroporto de Boa Vista
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Fica o desejo de
fazer mais passeios como este... fica a motivação de saber que sou capaz de me
sacrificar, pela causa de querer chegar! Fica a ambição de querer estar mais
vezes afastada do mundo real e quotidiano. Fica a curiosidade de querer
conhecer mais a natureza que nos circunda e que ignoramos no nosso dia a dia!
Fica a vontade de querer partilhar com outras pessoas estas experiências J Fica um Ser com certeza diferente!