8 de nov. de 2014

E já passou mais de 1 mês...


Pois é, não sei como mas já passou um mês desde que cheguei a Manaus J
O tempo passou rápido, mas as experiências estão as ser muitas e boas! Tudo o que me tem acontecido tem sido muito positivo...
A experiência profissional, talvez a que mais valorize porque foi a que me trouxe até aqui, tem sido incrivelmente fantástica! Não esperava outra coisa, porque tenho-me esforçado para que isso aconteça... mas ás vezes podia não ser correspondida! Neste caso, tenho todas as condições para desenvolver um bom trabalho. Tenho uma equipa de trabalho espetacular, entre alunos e profissionais, da Universidade (UFAM) mas também do Instituto Nacional de Pesquisa do Amazonas (INPA) por quem já fui recebida e onde já traçamos um plano de ações colaborativas J Tenho uma sala de trabalho para receber os meus colaboradores, tenho um laboratório para me reunir e trabalhar com os alunos envolvidos no projeto... temos um budget que nos permite desenvolver algumas operações favoráveis ao projeto... o que é que posso pedir mais? Estou super motivada e muito concentrada e focada na minha pesquisa. Vejo como tem evoluído, e isso ainda me provoca mais! Espero que continue assim J
Equipa de trabalho juntou-se no CINPAD


Os colegas, alunos e amigos têm sido surpreendentes! Todo o mundo na Universidade me recebeu de mãos, e de coração, abertos! Estão muito atentos e preocupados com o meu bem-estar! Preocupam-se em me dar a conhecer o melhor que têm, da sua cultura, da sua cidade, da sua vida pessoal e familiar. Estou a viver em casa de colegas, que considero amigos, e tem sido uma experiência muito boa! Sabemos que não é fácil a convivência, nem é fácil abrir as portas da nossa casa para outras pessoas, mas talvez porque aqui não haja muita facilidade para alugar uma casa por tão pouco tempo, em casa dos meus colegas tenho-me sentido muito bem recebida e integrada! Sem ser uma a mais, mas fazendo parte do ambiente, das decisões, do ciclo familiar deles.

Dia de SUP, com Cilene

Teatro Amazonas
Com outros colegas, tenho saído para diversas atividades, tenho sido convidada para participar em diferentes festas e acontecimentos. Fui ao Teatro do Amazonas duas vezes, uma delas ver uma colega Professora da UFAM cantar opera... foi lindo!!! Fui fazer SUP com outra colega... e fui nadar no Rio Negro já varias vezes (na praia do Inglês)! O pequeno almoço regional é outro costume muito querido aqui... no fim de semana, levantamos-nos cedo (6 da manhã) para ir tomar o ‘café da manhã’ na estrada. Já fui ao Café Regional da Pricilia, em Irantuba (do outro lado da ponte) que é um dos mais conhecidos, lá comemos: Pupunha cozida (um fruto tipo castanha), Macaxeira cozida (conhecida como Yuca noutros lugares), Tapioca de Tucumã com ou sem queijo (eu prefiro sem queijo!!!), diversos sucos naturais e café com leite (para quem gosta, eu prefiro suco icupuaçu ou graviola!!).
Amiga Larissa, cantora de Opera no Teatro Amazonas
Sopa de Tacaca, com pimenta
Os jantares e os almoços têm sido vários, para provar isto e aquilo... Almoçamos quase todos os dias na universidade, um refeitório tipo buffet onde cada um se serve do que quer e pagamos por peso. Uma refeição custa normalmente 10R (aprox. 3€). Gosto de comer lá, porque me permite manter a minha dieta vegana/vegetariana, todos os dias há pratos com grãos (feijão, ervilhas, lentilhas, grão de bico... – fonte de proteínas), de arroz e de pasta, variedade de saladas, verduras e frutas! Quando vamos comer fora, fico surpreendida com a quantidade e a variedade de peixes que têm aqui!!! São peixes de rio, claro! Mas são peixes com um ótimo sabor que nada têm a ver com os nossos peixes de rio: pequenos, cheios de espinhas e com um sabor muito forte. Também é verdade que as dimensões dos rios aqui não se podem comparar com as dos nossos rios, estes rios são quase um mar J Quase sempre como peixe Tambaqui, assado ou em caldeirada, mas também já provei o Pirarucu e o Surubim fritos tipo panados e o Pacu em sopa. Ainda tenho que provar o Jaraqui que dizem que quem come Jaraqui não sai daqui! Eeh

restaurante com a bandeira de Portugal
O clima foi fácil de me habituar, quem gosta de sol, de calor e também de apanhar tormentas de chuva quente, é ‘canja’!!! Pensemos no nosso verão do Alentejo, naquelas noite quentes-quentes que andamos de top bem fresquinhas e que nada nos refresca; que durante o dia, não podes andar ao sol e escolhes as sombras quando tens que te deslocar... juntemos-lhe as trovoadas de Valência, chuvas intensas com relâmpagos e raios que assustam, mas que veem de repente e duram pouco tempo... juntemos-lhe 80% de humidade, andamos sempre suados, e ainda lhe acrescentamos o anoitecer precoce de Bruxelas, porque aqui ás 18h já é de noite (todos os dias, não há horário de verão nem de inverno!)... pois isto é Manaus!!! O dia nasce por volta das 5h da manhã, aqui sou feliz, porque ás 5h30m acordo com o chilrear dos pássaros... meto-me na piscina para nadar e ás 6h30m o sol já é intenso. Quando vou trabalhar, ás 8h, já tenho a minha energia a top com exercício físico feito, pequeno-almoço tomado e a vitamina D ingerida J
Pois é, talvez o que tenha sido mais difícil tenha sido livrar-me dos mosquitos... mas tenho feito progressos! Agora durmo de janela fechada, com o ar condicionado! Tenho dois frascos de repelente, um no escritório e outro em casa; cada vez que saio de qq um destes lugares passo o repelente. Não sei se é só isso... acho que eles também já se habituaram a mim!
As noites?¿ Cada vez durmo melhor! acordo bastante cedo, sempre antes do despertador tocar, mas sinto que é o suficiente e levanto-me com energia J A linguagem e as expressões locais são contagiantes... levam-me a pensar que vai ser difícil voltar a falar o Português de antes, depois da influência de nuestros hermanos e dos Belgas, agora só me faltava esta, ein?! Manaus é mesmo ‘legal’ e os Manauenses são ‘bem bacanas’ J
Visita ao Bosque da Ciência, no INPA


13 de out. de 2014

Finalmente... em MANAUS!!!


Pois é... o que tem que ser, é!

A receita é lutar, não desistir e sobretudo acreditar, acreditar em ti, acreditar nos teus colegas, acreditar nas instituições e na seriedade de quem te convida! Não é fácil e muitas vezes acabamos por desistir, mas eu optei por lutar por aquilo que penso que é meu... A sorte já tinha sido lançada e o mais difícil já estava mesmo posto por escrito. A aprovação de um projeto como este não é fácil,  há muita concorrência, muitos investigadores a lutarem pelo mesmo e este já tinha sido aprovado em dezembro de 2012!! Após meses e meses sem ver as decisões avançarem, confesso que temi que esta viagem acontecesse mesmo J Mas depois de um ano á espera, e sem deixar cair os braços, todos os tramites burocráticos se resolveram e pouco a pouco começamos a tomar decisões cada vez mais promissoras até que finalmente cheguei a MANAUS :)

A viagem foi algo conturbada; de Bruxelas saí ás 6h da manha para Lisboa, de Lisboa a intenção era chegar a Brasília em 9h, mas o avião foi desviado para Belo Horizonte e tardamos 14horas para chegar a Brasília, de Brasília ainda fiz mais 4h de voo para Manaus... posso dizer que foram mais de 24 horas de viagem, entre esperas e aviões, mas a ilusão com que vinha superava qualquer coisa e nada me parecia demasiado problemático, nem cansativo! Nem tinha fome, nem sentia cansaço, nem estava aborrecida, só pensava! Pensava e pensava como seria Manaus, como seriam os meus colegas, como seriam os meus alunos, como seria a comida que todos me falavam que iria ter dificuldade, o clima, incluindo o calor e os bichinhos, etc. Eu escrevi muito durante a viagem, escrevi no meu diário sobre as minhas expectativas e ilusões, escrevi propostas e objetivos de trabalho, afinal o tempo nos aeroportos e nas viagens pode ser bastante produtivo, não há nada nem ninguém q te incomode, todos dormem á tua volta, ou veem filmes com os headphones, o ambiente é extremamente calmo...

Agora, depois de mais de 12 dias aqui, já posso registar aqui as minhas primeiras sensações sobre a cidade, sobre o meu trabalho e sobre a minha vida de Manauense. Se tivesse que descrever numa só palavra estas experiências eu escolheria a palavra DIFERENTE! É realmente diferente de todas as experiencias que já tive. A comida é diferente, existem muitos frutos e legumes que aparecem em todas as refeições que são desconhecidos para mim e que marcam essa diferença na textura, no paladar, no gosto, na sensação... O clima é diferente, diferente no calor, na humidade, nas chuvas, que são tropicais e carregadas de raios... Os horários são diferentes, sim! Aqui levanto-me antes das 6 horas para ir para o ginásio antes de começar a trabalhar ás 8h; almoçamos ás 11.30 porque ás 12h na cantina já é difícil apanhar comida... e ás 18h é noite cerrada. A hora não muda durante todo o ano e o clima é sempre o mesmo... A liberdade?¿ meus caros amigos, é DIFERENTE mesmo! Ir sozinho a qualquer parte não sei se é impossível, porque impossível não é nada mas se não tens meios, torna-se mesmo muito difícil... n há passeios nas ruas, as ruas não são ortogonais e é fácil que te percas, a rede de autocarros é caótica, complicada para ir de um sitio a outro, levas horas... Inseguridade?¿ Eu oiço falar mas realmente ainda n senti medo, só fico assustada de ver policias armados em qq local e sobretudo na entrada das casas, dos bancos, dos supermercados.. todos os vidros dos carros são fumados e as casas não dão diretamente para a rua, têm grades e mais grades...

Eu poderia contar já mil e uma diferenças, e não acabava o jogo hoje... por isso, vou optar por ir contando aos poucos, conforme me vá lembrando.

A sensação de quando provei a sopa indígena Tacacá, no centro da cidade de Manaus, de frente para a Opera (um dos edifícios mais bonitos da cidade) foi a experiência que mais me marcou! Eu fiquei sem palavras e senti um arrepio percorrer-me toda a espinha dorsal quando dei o primeiro gole...  É um caldo fino com cebola, alho, pimenta, salsa, tem camarão do rio e mais uma série de temperos conhecidos, mas tem um goma branca feita a partir da tapioca que é esquisitíssimo... e uma erva, que eu diria que aparentemente parece espinafres, mas o sabor não tem nada a ver, é ácido misturado com hortelã, que contagia o sabor de todo o caldo e deixa uma textura na boca rugosa. Comecei a gostar da sopa á medida que a ía comendo, porque o sabor não é de facto desagradável, mas não é reconhecível nem comparável, por isso eu fiquei impressionada!

Café da manhã, com Karla e Almir
Outras iguarias mais fáceis de comer são o peixe Tambaqui (assado ou em sopa);  o Tucumã que curiosamente é o fruto da palmeira que estudamos, e é ótimo em sandes, sozinho ou com queijo prato ou coalho;

Kcal   PTN(g)   LIP(g)    CHO(g)   Vit. A         FIB
474    5,50     47,20        6,80      5170,00    19,20

o Cupuaçu, que é um fruto que se toma em suco, e sabe tipo a melão com limão... é ótimo!;

Sandes de Tucumã com queijo prato
a Tapioca, que é feita de farinha de mandioca, come-se tipo crepe acompanhada de queijo, Tucumã (a minha preferida!!!), fiambre... ou coisas doces tipo chocolate, banana, marmeladas;
o Açaí que já conhecia, de tomar em Florianópolis mas o fruto só há aqui nesta região, normalmente toma-se em suco tipo granizado, ou em gelado;

e muitas outras iguarias que vou ouvindo e que os nomes custam a ficar registados. Mas atenção porque aqui é tudo excessivamente calórico! É preciso ir ao ginásio todos os dias para lutar contra as calorias ingeridas J eheh

Aniversário da tia Leila!!
Bom, mas não é só de comida que o Ser Humano se alimenta... o coração cresce e bate realmente mais forte, quando alguém te sorri, te abraça e te conta piadas... e, assim é como te sentes aqui no Brasil, com os Brasileiros!! Algo que me surpreende aqui, e que já em Florianópolis me passou, é o acolhimento que recebes das pessoas e onde vais. Eu tenho a sorte de ser recebida por uma amiga, a Karla, com quem partilhei muitas horas de estudo em Valência (no doutoramento) e com quem mantenho uma relação de grande amizade... ela, e a família dela, têm sido para mim um grande suporte, praticamente sou a sobrinha-neta, adoptada da família Maciel-Mazarelo! Agora que a Karla viajou para o México, por uns dias, recebo mensagens de carinho da tia Leila :) é de facto, impressionante! Os colegas da faculdade, e em especial a minha amiga Patricia, colocam-me á vontade para colaborar, para participar e estão sempre prontos em me ajudar com os tramites mais que burocráticos que tenho necessidade de fazer por aqui. e os alunos?! são verdadeiramente especiais! querem aprender, colaborar, participar... dos poucos encontros que tive com eles, parece-me que vamos conseguir atingir os objectivos, e até ir mais além!

Espero que assim seja!!


13 de jul. de 2014

Bienvenue au nord !


não posso dizer que vivo no norte... talvez seja mais correto dizer que é centro da Europa, mas para quem sempre viveu no sul da Europa, isto é o NORTE amigos!!!! Em pleno mês de julho, é o norte tal e qual como o imaginamos nós desde do sul, com botas de água, de impermeável e sem óculos de sol!!!! Chove desde o inicio desta semana... finalmente, pude estrear o meu impermeável novo, que apesar de ter mais de um ano, mas ainda não tinha sido batizado... é giríssimo, azul petróleo, de corte assimétrico, tem um capuz, bolsos, etc... mas apercebi-me que, depois de levar com tanta chuva, impermeável é que ele não é! Ahah deve ser impermeável apenas quando não chove, em Valência, por exemplo J

Esta semana pude aprender e descobrir algumas coisas debaixo da chuva. A verdade é que em Portugal e em Espanha (pelo menos onde eu vivi) quando chove ninguém sai de casa, não vamos fazer desporto ao ar livre, não usamos a bicicleta, não vamos tomar um café numa esplanada, etc... para quê, se amanhã (ou, como muito em 3 dias) está sol?! Quando chove, vais para o trabalho de carro ou de transportes públicos, deixas a bicicleta, a trotineta e/ou os patins de lado, ou aproveitas para ficar em casa, ler um livro, arrumar trastos, ver um filme com os amigos, etc. Aqui a vida continua e toda a gente segue o seu rumo e a sua rotina de forma natural J

O primeiro dia que choveu, e que me correspondia sair a correr, fiquei em casa. Pensei: ‘se ontem nadei e amanhã irei nadar, que necessidade  tenho eu de ir apanhar mais água??’ Bom, fiquei a pensar nisto todo o dia, e o tempo nos dias seguintes também não melhorou... até que já saí a correr dois dias, chovendo J  Descobri que o boné tem outra utilidade mais do que tapar do sol, tapa também da chuva!!! Que posso correr de calções e de t-shirt porque realmente não está frio, a chuva não magoa e enquanto corro estou fresquinha. É uma sensação deveras agradável: o ar parece estar mais puro, o ambiente limpo e está tudo muito mais florido. Encontras mais pessoas a correr á mesma hora que tu, os parques têm as mesmas pessoas, jovens e mais velhas, homens e mulheres. Realmente há toda uma vida  paralela, debaixo da chuva J

Ir de bicicleta para o trabalho, com chuva??? É o máximo!! É verdade que tenho que mudar de impermeável, porque chego bastante molhada... mas também de cara lavada e cheia de energia.

Enfim... é uma questão de adaptar-se a outros padrões de vida e mudar certos preconceitos, onde associamos, por exemplo, o julho com a praia e os óculos de sol, com a minissaia e o desporto ao ar livre... este será um julho diferente, correspondendo com o ‘nosso’ março/abril (mais chuvosos!) mas não deixa de ser por isso menos interessante e curioso, cheio de coisas novas por descobrir ;)

Quando vier a neve, em novembro/dezembro, aí veremos onde deixo a bicicleta e o boné ;)