13 de out. de 2014

Finalmente... em MANAUS!!!


Pois é... o que tem que ser, é!

A receita é lutar, não desistir e sobretudo acreditar, acreditar em ti, acreditar nos teus colegas, acreditar nas instituições e na seriedade de quem te convida! Não é fácil e muitas vezes acabamos por desistir, mas eu optei por lutar por aquilo que penso que é meu... A sorte já tinha sido lançada e o mais difícil já estava mesmo posto por escrito. A aprovação de um projeto como este não é fácil,  há muita concorrência, muitos investigadores a lutarem pelo mesmo e este já tinha sido aprovado em dezembro de 2012!! Após meses e meses sem ver as decisões avançarem, confesso que temi que esta viagem acontecesse mesmo J Mas depois de um ano á espera, e sem deixar cair os braços, todos os tramites burocráticos se resolveram e pouco a pouco começamos a tomar decisões cada vez mais promissoras até que finalmente cheguei a MANAUS :)

A viagem foi algo conturbada; de Bruxelas saí ás 6h da manha para Lisboa, de Lisboa a intenção era chegar a Brasília em 9h, mas o avião foi desviado para Belo Horizonte e tardamos 14horas para chegar a Brasília, de Brasília ainda fiz mais 4h de voo para Manaus... posso dizer que foram mais de 24 horas de viagem, entre esperas e aviões, mas a ilusão com que vinha superava qualquer coisa e nada me parecia demasiado problemático, nem cansativo! Nem tinha fome, nem sentia cansaço, nem estava aborrecida, só pensava! Pensava e pensava como seria Manaus, como seriam os meus colegas, como seriam os meus alunos, como seria a comida que todos me falavam que iria ter dificuldade, o clima, incluindo o calor e os bichinhos, etc. Eu escrevi muito durante a viagem, escrevi no meu diário sobre as minhas expectativas e ilusões, escrevi propostas e objetivos de trabalho, afinal o tempo nos aeroportos e nas viagens pode ser bastante produtivo, não há nada nem ninguém q te incomode, todos dormem á tua volta, ou veem filmes com os headphones, o ambiente é extremamente calmo...

Agora, depois de mais de 12 dias aqui, já posso registar aqui as minhas primeiras sensações sobre a cidade, sobre o meu trabalho e sobre a minha vida de Manauense. Se tivesse que descrever numa só palavra estas experiências eu escolheria a palavra DIFERENTE! É realmente diferente de todas as experiencias que já tive. A comida é diferente, existem muitos frutos e legumes que aparecem em todas as refeições que são desconhecidos para mim e que marcam essa diferença na textura, no paladar, no gosto, na sensação... O clima é diferente, diferente no calor, na humidade, nas chuvas, que são tropicais e carregadas de raios... Os horários são diferentes, sim! Aqui levanto-me antes das 6 horas para ir para o ginásio antes de começar a trabalhar ás 8h; almoçamos ás 11.30 porque ás 12h na cantina já é difícil apanhar comida... e ás 18h é noite cerrada. A hora não muda durante todo o ano e o clima é sempre o mesmo... A liberdade?¿ meus caros amigos, é DIFERENTE mesmo! Ir sozinho a qualquer parte não sei se é impossível, porque impossível não é nada mas se não tens meios, torna-se mesmo muito difícil... n há passeios nas ruas, as ruas não são ortogonais e é fácil que te percas, a rede de autocarros é caótica, complicada para ir de um sitio a outro, levas horas... Inseguridade?¿ Eu oiço falar mas realmente ainda n senti medo, só fico assustada de ver policias armados em qq local e sobretudo na entrada das casas, dos bancos, dos supermercados.. todos os vidros dos carros são fumados e as casas não dão diretamente para a rua, têm grades e mais grades...

Eu poderia contar já mil e uma diferenças, e não acabava o jogo hoje... por isso, vou optar por ir contando aos poucos, conforme me vá lembrando.

A sensação de quando provei a sopa indígena Tacacá, no centro da cidade de Manaus, de frente para a Opera (um dos edifícios mais bonitos da cidade) foi a experiência que mais me marcou! Eu fiquei sem palavras e senti um arrepio percorrer-me toda a espinha dorsal quando dei o primeiro gole...  É um caldo fino com cebola, alho, pimenta, salsa, tem camarão do rio e mais uma série de temperos conhecidos, mas tem um goma branca feita a partir da tapioca que é esquisitíssimo... e uma erva, que eu diria que aparentemente parece espinafres, mas o sabor não tem nada a ver, é ácido misturado com hortelã, que contagia o sabor de todo o caldo e deixa uma textura na boca rugosa. Comecei a gostar da sopa á medida que a ía comendo, porque o sabor não é de facto desagradável, mas não é reconhecível nem comparável, por isso eu fiquei impressionada!

Café da manhã, com Karla e Almir
Outras iguarias mais fáceis de comer são o peixe Tambaqui (assado ou em sopa);  o Tucumã que curiosamente é o fruto da palmeira que estudamos, e é ótimo em sandes, sozinho ou com queijo prato ou coalho;

Kcal   PTN(g)   LIP(g)    CHO(g)   Vit. A         FIB
474    5,50     47,20        6,80      5170,00    19,20

o Cupuaçu, que é um fruto que se toma em suco, e sabe tipo a melão com limão... é ótimo!;

Sandes de Tucumã com queijo prato
a Tapioca, que é feita de farinha de mandioca, come-se tipo crepe acompanhada de queijo, Tucumã (a minha preferida!!!), fiambre... ou coisas doces tipo chocolate, banana, marmeladas;
o Açaí que já conhecia, de tomar em Florianópolis mas o fruto só há aqui nesta região, normalmente toma-se em suco tipo granizado, ou em gelado;

e muitas outras iguarias que vou ouvindo e que os nomes custam a ficar registados. Mas atenção porque aqui é tudo excessivamente calórico! É preciso ir ao ginásio todos os dias para lutar contra as calorias ingeridas J eheh

Aniversário da tia Leila!!
Bom, mas não é só de comida que o Ser Humano se alimenta... o coração cresce e bate realmente mais forte, quando alguém te sorri, te abraça e te conta piadas... e, assim é como te sentes aqui no Brasil, com os Brasileiros!! Algo que me surpreende aqui, e que já em Florianópolis me passou, é o acolhimento que recebes das pessoas e onde vais. Eu tenho a sorte de ser recebida por uma amiga, a Karla, com quem partilhei muitas horas de estudo em Valência (no doutoramento) e com quem mantenho uma relação de grande amizade... ela, e a família dela, têm sido para mim um grande suporte, praticamente sou a sobrinha-neta, adoptada da família Maciel-Mazarelo! Agora que a Karla viajou para o México, por uns dias, recebo mensagens de carinho da tia Leila :) é de facto, impressionante! Os colegas da faculdade, e em especial a minha amiga Patricia, colocam-me á vontade para colaborar, para participar e estão sempre prontos em me ajudar com os tramites mais que burocráticos que tenho necessidade de fazer por aqui. e os alunos?! são verdadeiramente especiais! querem aprender, colaborar, participar... dos poucos encontros que tive com eles, parece-me que vamos conseguir atingir os objectivos, e até ir mais além!

Espero que assim seja!!